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Mensagens

A mostrar mensagens de 2009

Um dia perfeito

Hoje é Domingo. O primeiro dia de uma nova semana. Mas é como se fosse o dia zero, porque ao Domingo não há compromissos. O despertador não toca. O stresse matinal está de folga. O trânsito partiu para parte incerta. Não há reuniões, nem negócios importantes para selar. Hoje é dia de festa. É dia de tomar o pequeno-almoço à mesa. De rebolar nos lençóis fresquinhos e enterrar a cabeça novamente na almofada após o pequeno-almoço. De nos deixarmos afogar numa lassidão sem culpas. É dia de levar meia hora no duche a cantarolar. É dia de estrear roupa domingueira e sapatos novos. É dia de almoçar em família durante horas e horas. É dia de passear com os filhos e ter tempo para os ver saltar e sorrir. É tempo de termos tempo para reparar na sorte que temos por estarmos vivos e sermos gratos por isso. Hoje é Domingo. Hoje é um dia feliz. Hoje é um dia perfeito.

Fazer amigos

Não sei muito bem porquê, mas nunca fui muito boa a fazer amigos. Talvez por ser reservada. Talvez por ser prudente. Talvez por ser desconfiada. Mas já vivi grandes momentos com pessoas a quem passei a designar por amigos. Dei-me por inteiro, partilhei o impartilhável e acabei por sofrer. Ao perceber que um dia, no dia em que mais precisava, eles não estavam lá. Estavam longe, demasiadamente ocupados com os seus problemas para perderem tempo com os meus. E senti-me muito só. Mais só do que se nunca tivesse tido amigos. Porque tê-los mas eles não estarem lá, no momento certo, para o que der e vier, é o mesmo que nunca terem existido. E então, a desilusão dá lugar à dor, que dá lugar à indiferença, que dá lugar ao prazer da solidão. Começo a gostar de estar só. O gosto vai virando vício. O vício transforma-se numa silenciosa dependência. E chego ao ponto em que me sinto mais acompanhada quando estou só. E lembro-me de alguém especial me ter ensinado um dia: “ A pior solidão é a ausência

Medo do escuro

Confesso: Tenho medo do escuro. Só de pensar em apagar a luz, o sono foge. E sem pedir licença, o medo deita-se na cama comigo. Descarado, sem vergonha, seduz-me com palavras meigas e lenta e silenciosamente vai-me penetrando. Contra a minha vontade. Sinto-me violada. Ele vai entrando em mim e eu não quero. Mas, no entanto, deixo. Vou-me deixando consumir pelo medo. Tento reagir. Apago a luz. Está tudo escuro. Vejo sombras, vultos. Sinto um bafo quente, oiço passos. Quem será? Tenho medo. Não vejo nada nem ninguém. Estou apavorada. Luto, resisto. Não consigo. É mais forte do que eu. Acendo novamente a luz. O medo vence a batalha e sorri para mim. E eu, para não dar parte fraca, opto simplesmente pelo desprezo. Fecho os olhos e adormeço. De luz acesa. Sempre. Sempre que me sinto só.

Quarto de hotel

Adorava morar num quarto de hotel. Numa suite presidencial 5 estrelas. Daquelas onde os líderes mundiais pernoitam entre cimeiras. Regressar todos os dias a um sítio meticulosamente limpo e arrumado, onde o conforto paira no ar. Onde a cama está sempre feita, onde os lençóis estão sempre imaculadamente brancos. Pedir o jantar pelo telefone, saboreá-lo tranquilamente sem me preocupar em cozinhar, limpar ou arrumar o que quer que seja. Mandar recolher a loiça suja e descansar sem mais me preocupar com nada. Pedir à recepção que me desperte à hora certa e ser recebida pela manhã com um pequeno almoço repleto de iguarias deliciosas preparadas de antemão por alguém. Pedir mais café se me apetecer e partir para o meu dia de trabalho com a leveza de espírito que sempre desejei. Acabar com as demoradas idas ao supermercado, que apenas roubam tempo e dinheiro. Ter tempo - o maior luxo de que se pode usufruir - e aproveitá-lo a meu bel-prazer. Ler, escrever, devorar cinema, viajar e viver. Aprov

Falta de inspiração

Ligo o PC. Começo a teclar, mas não me ocorre nada. Estou cheia de palavras e vazia de assuntos sobre o quais me apeteça desabafar. Cansaço, preguiça, ou talvez um misto de ambas. Mesmo assim, vou contrariar esta inércia e continuar a escrever. Porque mesmo o facto de não me apetecer escrever sobre nada é por si só um tema válido para umas linhas. Estou sentada frente à TV a ver lamechices. Não tenho vergonha de o admitir. Paro, penso e continuo a teclar. Abateu-se sobre mim um súbito vazio de ideias que me deixa apavorada. Terei perdido o meu Dom? Mantenho a calma. Talvez seja apenas um bloqueio cerebral momentâneo. Vou ficar à espera que passe depressa. Enquanto isso, vou continuar a escrever coisas sem nexo. Escrever só por escrever. Escrever só porque gosto!

A viagem

Todas as manhãs saio de casa e retomo a minha viagem. Entro no carro e entrego o volante ao meu destino, deixando que ele me guie sobre as linhas que, a tracejado, vão surgindo no caminho. Não sei bem para onde vou, mas hei-de lá chegar. Algures onde a minha presença é necessária. Missão cumprida, retomo a estrada e sigo viagem. Será longa, será curta? Nunca sei. Apenas quero e desejo sempre seguir em frente e fazer uma boa viagem.

Sono de anjo

Os anjos não têm sexo, mas conheço um que diz ser uma menina. Tem cabelos de anjo, soltos em pequenos canudos dourados. Tem cheiro de anjo, um cheiro doce como o leite açucarado. Tem olhos de anjo, meigos e cintilantes como estrelas. Tem pele de anjo, macia como o veludo de um pêssego. Será um anjo caído do céu? Todas as noites um anjo desce à terra e aterra no meu quarto. E eu faço-lhe a cama, aconchego-lhe a manta e faço passar os meus dedos por entre os canudos do seu cabelo. E ele dorme como um anjo. Durante a noite, em sonhos, diz-me que é uma menina. Curiosa, quero saber o seu nome. Sorridente, ela por fim responde: "Mamã, o meu nome é Júlia".

Um prédio amarelo

Vivo no quarto andar de um prédio amarelo. São quatro andares vezes dois lados, esquerdo e direito. Além da porta ao lado, onde nunca bati, existem mais oito portas onde se escondem umas dezenas de perfeitos desconhecidos. Já vislumbrei alguns rostos de soslaio, por entre uma e outra viagem de elevador. Elevador acima, escada abaixo, a porta da rua é o único ponto de encontro destes anónimos que fazem questão de não se dar a conhecer. Já ouvi o choro de crianças. Alguns devem ter filhos. Mas a minha filha não tem amigos. Eles não saem da toca para brincar. O meu prédio amarelo é um aglomerado de gavetas onde as pessoas se escondem quando voltam do trabalho. Comem, dormem e voltam a sair. Sem tempo nem vontade para se conhecer. E os dias passam e nada muda. Vejo roupa estendida. Oiço-os furar paredes e aspirar o chão. Suspeito que mora lá alguém. Tenho vizinhos mas não tenho amigos, no meu prédio amarelo. Para compensar, consigo ver o mar. Lá ao longe, o farol acena-me de noite, como se

Quero escrever o mundo e a história dos que não têm voz

Hoje tomei uma decisão. Vou começar a escrever, simplesmente porque gosto. As palavras emocionam-me. E penso que isso quer dizer alguma coisa. Talvez tenha um Dom e não o esteja a aproveitar devidamente. Para já, vou começar apenas a escrever porque gosto. E, quem sabe, um dia alguém venha a descobrir o que escrevo, gostando tanto de me ler como eu gosto de escrever.

O poder da palavra

A palavra é uma arma. Quando sai disparada na direcção de alguém, pode ferir. Mas é também um bálsamo que, na dose certa, pode curar, amenizar, suavizar todos os males. A palavra é poderosa. Ela ordena, ela condena, ela impõe, ela retira. A palavra é o nosso bem mais precioso. A palavra escrita, a palavra dita, a palavra ouvida. As palavras são como penas que dançam ao vento. As palavras emocionam-me! São elas que me fazem rir, chorar, sentir. São elas que me fazem falta quando não tenho palavras. São elas que me dão força quando mais preciso dela. São elas que me movem na busca do que quero encontrar. Palavras leva-as o vento? Pois ele que as leve numa bonita dança que eu fico aqui para ver.