A meio da tarde, já o cheiro do fogão a lenha inunda a casa. Orgulhosa dos novos sapatinhos de verniz, Sofia sobe os poiais da entrada a saltitar. Os primos correm para a receber. Passou mais um ano e estão todos tão crescidos… Trocam abraços e beijos e cheiros. Os primos de França emanam aromas que vêm do estrangeiro. Os cremes e perfumes que usam exalam fragrâncias que perduram na memória de Sofia até hoje. A menina atravessa o longo corredor a correr, raspando ao de leve as pontas dos dedos pela parede áspera pintada de rosa velho. Desemboca na sala, onde não se demora, subindo mais um degrau até à cozinha onde fervilham tachos no pequeno fogão. A avó bate claras em castelo, ultimando as farófias que vai servir logo à noite. Sempre a subir. Falta cumprimentar o avô, que como sempre está no quintal, envolto no seu mundo de redes e alcatruzes com cheiro a maresia. Sentado no banco de madeira pintado de azul, junto ao fogão a lenha, de boné de fazenda e bigode sempre negro (apesar d
por Cláudia Sofia Sousa