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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2012

Olá minha querida!

Passávamos tardes inteiras a conversar e a beber chá. Eram sempre tardes de Domingo, fosse Verão ou Inverno. Eram sempre tardes em que eu poderia estar em qualquer outro lado a fazer qualquer outra coisa, mas preferia estar ali. A sua companhia fazia-me bem. Eu podia combinar o encontro, ou aparecer de surpresa, que ela estava sempre lá à minha espera. Tocava à campainha e podia ter que esperar mais de um minuto até que a porta se abrisse. Durante esse compasso de espera, podia imaginá-la a caminhar a custo pelo corredor. Ao contrário do cérebro, há muito que o corpo começara a sucumbir ao peso da idade. Afinal já são 91 quilos, dizia ela com graça, referindo-se aos seus longos anos de vida. Recebia-me sempre com o afecto maternal com que sabia tratar toda a gente. Talvez por nunca ter sido mãe, tinha o gesto espontâneo de adoptar todos os que lhe eram queridos. Partilhava afecto com o mesmo à vontade com que distribuía tudo o que tinha. Sem agenda, nem os lembretes electrónicos dos t

Cibernóia

Na sala de espera, Diogo impacienta-se com a demora. É proibido fumar. Roer as unhas em público não é de bom-tom. Está sentado num sofá demasiado mole forrado a napa. Cruza e descruza as pernas, estala os dedos das mãos, respira fundo, vezes sem conta. E a porta do consultório continua fechada. Ao pensar na razão que o trouxe ali, um nervoso miudinho aloja-se no estômago e chega a pensar em desistir. Finta a porta de saída e está já a equacionar a fuga quando a recepcionista, após receber uma chamada telefónica, o chama: - Sr. Diogo, vamos? Ao levantar-se para o acompanhar até à porta do consultório, a recepcionista revela-se em toda a sua beleza: é alta, elegante e os seus cabelos longos e negros libertam, à sua passagem, um doce aroma floral. Dá dois toques na madeira com os nós dos dedos, antes de girar o puxador gentilmente. A porta abre-se deixando antever um homem de óculos semi-careca. Está sentado a uma secretária de estilo moderno e, sem desviar o olhar dos papéis onde está