Era uma noite de janelas abertas e muita falta de ar. Ela deambulava pela casa suspirante, sem rumo certo, ora pelo corredor, ora pelo quarto, ora pela sala, sem encontrar o poiso certo. Era como se lhe apetecesse algo que não tem nome, que não se entende, que não se pode explicar. Um lugar, um objecto, uma pessoa? Ou talvez nada. Ou talvez um pouco de tudo isso. Era como se tudo tivesse e ainda assim tudo lhe faltasse. Tinha talvez o essencial. Talvez lhe faltasse o acessório. Aquela, a tal, a peça fundamental para completar o puzzle tantas vezes imaginado em sonhos. Sonhos secretos. Ligou a TV. Percorreu todos os canais. E nada. Tentou a aparelhagem. Na rádio não conseguiu sintonizar-se com qualquer melodia. Pegou num livro. Folheou. Cheirou o rasto do restolhar das páginas. Desistiu antes de começar. Esquecia-se da segunda palavra antes de fixar os olhos na terceira. Toda a sua atenção estava desfocada por ideias desalinhadas que se entrecruzavam aleatoriamente. Na cabeça, milhare
por Cláudia Sofia Sousa